terça-feira, 8 de junho de 2010

Da mestra, com carinho...


Aloha!
É, de vez em quando tenho que dar uma passadinha por aqui pra atualizar as postagens, né?! Tem gente reclamando que demoro muito pra postar (não é, Dan? rs). Enfim, ando muito sem tempo; mas muito MESMO (sem contar que estou meio desestimulado a escrever, mas deve ser por conta da bipolaridade mesmo...).

Hoje trago um texto muito especial, escrito por uma das minhas maiores MESTRAS. Trata-se de Maria Olívia Garcia, uma euclidiana de sangue quente, baixinha e bastante nervosa, predestinada e lutadora. Ela, junto de mais uns 2 ou 3 euclidianos, são os responsáveis pelo meu crescente gosto e paixão por Euclides da Cunha. Ela publica crônicas todas as semanas em um semanário de São José do Rio Pardo, às quais dedico minutos também semanais para leituras atentas. Enfim, tudo que eu disser aqui será pouco diante das preciosidades que ela produz. Lá no fim do post, embaixo do texto, deixarei o link do jornal pra que possa acompanhar as demais publicações dessa pequena-grande-pessoa! 
E vamos ao texto (é grande, mas vale a pena lê-lo inteiro!): 


O amor em poesias e canções

Nesta quarta-feira, dia 26, tive o prazer de fazer uma palestra à turma do INTERIDADES, da UNIP Central e passar com os participantes uma tarde gostosa, falando de um sentimento que hoje anda escasso neste mundo: o amor. Escolhi o tema por estarmos entre o Dia das Mães, que foi há pouco, e o Dia dos Namorados, que já se aproxima.
Mas o amor não é um sentimento restrito a um casal, é amor a tudo: aos filhos, aos parentes, aos amigos – pois o que é a amizade, senão amor? -, à natureza, aos animais, enfim, amor à vida. Sim, pois ele é a pulsão que nos impele a viver, o seu contrário, ou seja, a inveja, a raiva, o ódio, são pulsões de morte, consomem-nos pouco a pouco, minam a saúde de quem os cultiva, até que o corpo físico concretize em doença o mal que corrói o espírito. Voltemos, portanto, a falar do amor, entre versos e melodias que se eternizaram, portanto nunca deixam de ser atuais.
Tudo pode começar quando alguém elege uma pessoa como “deusa” ou “deus” de sua rua, bairro ou cidade, e a fantasia começa a impulsionar a imaginação (ou seria o contrário?); a idéia vai se cristalizando e, em pouco tempo, o sonho ocupou o espaço da realidade... E passa o coração a cantar: “A deusa da minha rua/ tem os olhos onde a lua/ costuma se embriagar...” Nelson Gonçalves criou lindas metáforas em nome do amor, revelando a visão de um coração apaixonado: “Minha rua é sem graça/ mas quando por ela passa/ seu vulto que me seduz/ a ruazinha modesta / é uma paisagem de festa/ é uma cascata de luz.”
Um dia, a moça desconfia... Olhares trocados (estamos ainda nos costumes antigos, observe, leitor), suspiros apaixonados e aquele incêndio no coração que só Camões pode traduzir: “Amor é fogo que arde sem se ver, / é ferida que dói, e não se sente; / é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer...”
Ilógico. Irracional. Absurdo, muitas vezes – eis o amor, misto de paixão, que pega as pessoas de sofreguidão. Tanto esse sentimento tem vida própria que havia, para os antigos pagãos, um deus para o amor: Cupido. Ele era o responsável pelas flechadas fora de hora e em alvo não desejado... Boa desculpa para quem não conseguia explicar a inexistência de lógica no fato de se apaixonar por alguém que contrariasse tudo o que a sociedade esperava.
Tão atual é Camões que o Legião Urbana juntou-lhe os versos às palavras de São Paulo sobre a caridade e conseguiu uma belíssima letra: “Ainda que eu falasse a língua dos homens, / e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria./ É só o amor, é só o amor / que conhece o que é verdade. / O amor é bom, não quqer o mal / Não sente inveja ou se envaidece. O amor é o fogo que arde sem se ver,/ é ferida que dois e não se sente/ é um contentamento descontente/ é dor que desatina sem doer...”
Enfim, todo apaixonado jura que aquele amor é eterno, como Jobim, que na voz de Caetano fica maravilhoso: “eu sei que vou te amar / por toda a minha vida/ eu vou te amar/ a cada despedida/ eu vou te amar/ desesperadamente/ eu sei que vou te amar... “
Porém Fernando Pessoa, bastante cético em relação ao amor, abraça a teoria psicanalítica de sua época, explicando-nos, em “Eros e Psiquê”, poema em forma de lenda, que o príncipe-herói desvia-se do caminho que trilhava, supera obstáculos para encontrar a amada e, finalmente, “chega onde em sono ela mora”. Ainda meio atordoado, leva a mão à cabeça da moça, que espera-o dormindo, “sonha em morte a sua vida” e, ao erguer-lhe da fronte a hera, “vê que ele mesmo era a princesa que dormia.”  Porque, na verdade, o que se busca no outro é o que gostaríamos de ter em nós.
Terrível é o sentimento que Lupicínio Rodrigues lança na música interpretada por Linda Batista... “Eu gostei tanto/ tanto quando me contaram/ que lhe encontraram/ chorando e bebendo/ na mesa de um bar/ e que quando os amigos do peito/ por mim perguntaram / um soluço cortou sua voz...” Ora, isto não é amor, é egoísmo! Quem ama não deseja ver a pessoa amada sofrer, mesmo que dela tenha recebido somente desprezo. Por isto mesmo o grande poeta lusitano considera “tão contrário a si o próprio amor!”
Verdadeiro amor é o de Drummond: “Eu te amo porque te amo/ não precisas ser amante,/ e nem sempre sabes sê-lo/ [...] amor é estado de graça/ e com amor não se paga.” Amor não é comércio, se fosse, seria simples: eu lhe dou isto, você me dá amor e ficamos ambos felizes... Mas não é assim que acontece! “Amor é dado de graça, / é semeado ao vento,/na cachoeira, no eclipse,/ amor foge a dicionários/ e a regulamentos vários./ Eu te amo porque não amo/ bastante ou demais a mim./ Porque amor não se troca,/ não se conjuga nem se ama./ Porque amor é amor a nada,/ feliz e forte em si mesmo./ Amor é primo da morte,/ e da morte vencedor./ Por mais que o matem (e matam)/ a cada instante de amor.” Não há definição melhor para esse sentimento!
Como disse ao grupo INTERIDADES, totalmente feminino nesta quarta, homens românticos assim só existem na TV, portanto não há mal algum em fechar os olhos e imaginar, por exemplo, que é para nós que Roberto canta: “A mulher que eu amo/ tem tudo que eu quero/ e até mais do que espero / encontrar em alguém/ A mulher que eu amo/ tem um lindo sorriso/ É tudo que eu preciso/ pra minha alegria./ A mulher que eu amo/ tem nos olhos a calma/ ilumina minha alma / é o sol do meu dia./ Tem a luz das estrelas / e a beleza da flor/ ela é minha vida/ ela é o meu amor.”
Anunciam que o “Viagra” feminino vem aí... Inútil. Não há nada que se compare a umas palavras de amor ao pé do ouvido, a um dia que chega ao final cheio de pequenos gestos significativos trocados entre o casal e à ternura expressa em beijos e abraços. O homem pode ser mais racional do que a mulher, porém ela não tem o sexo concentrado em um órgão apenas. O ponto mais importante da mulher é a intuição, que reside, creio eu, no cérebro, e as sensações estão espalhadas pelo corpo todo. É isto que os homens esquecem depois de algum tempo de convivência... 
Amor e ternura ainda são os melhores remédios para qualquer mal da mulher! Está certo Gilberto Gil: “Amor não tem que se acabar”; “A rosa do amor não vai despetalar/ pra quem cuida bem da rosa/ pra quem sabe cultivar...” (Maria Olívia Garcia)





ps: Olívia, sou eternamente fãzaço e grato pelos seus belos exemplos de cidadã consciente e engajada!

0 comentários:

Postar um comentário